Escola Secundária da Ramada
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Escrita & Leitura


Ficha de Leitura


Título: Os filhos da droga

Autor: Felscherinow, Christiane Vera

Editora: «Livros do Brasil» Lisboa; Colecção Vida e Aventura

Local e Data: Lisboa; Novembro de 2004



Informações sobre o autor

Christiane Vera Felscherinow mais conhecida como Christiane F., nasceu em Hamburgo, no dia 18 de Maio de 1962. É a personagem principal do livro autobiográfico Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, publicado e editado pela revista alemã Stern em 1978. Este livro foi posteriormente editado em Portugal, tendo como título: Os filhos da droga, o qual foi um autêntico sucesso. Este livro foi também adaptado ao cinema por Ulrich Edel, um realizador alemão que conseguiu chocar os críticos devido à veracidade e à maneira como os actores e actrizes representaram papéis tão complexos e difíceis.

Resumo

A história baseia-se nos relatos de uma adolescente chamada Christiane, que tinha apenas 13 anos quando enveredou pelos caminhos da droga.

Até aos 6 anos ela viveu numa pequena aldeia onde o ambiente era humilde. Passado algum tempo, ela, os pais e a irmã mudaram-se para Berlim, para uma zona hostil e a família começou a desmoronar-se pouco a pouco, porque o pai de Christiane começou a bater-lhe, à irmã e à própria mulher.

A mãe de Christiane divorciou-se e levou a Christiane com ela, enquanto que a sua outra filha preferiu viver com o pai e a sua amante.

Christiane ficou abalada com tudo o que lhe estava a acontecer e pouco a pouco acabou por experimentar, primeiramente tabaco e álcool e seguidamente, drogas consideradas leves (haxixe, LSD, Valium, Mandrix) que adquiria na casa do centro, uma casa onde se reuniam alguns jovens alegadamente para rezarem e prestarem culto, mas na realidade era para se drogarem, ouvirem música e viverem a realidade que eles tinham construído à custa das drogas.

Daí em diante experimentou Heroína com o seu namorado, Detlef quando ela tinha treze anos e ele dezassete. Depressa ficaram dependentes da Heroína recorrendo às teias da prostituição para sustentar o vício, chegando mesmo a serem presos.

A mãe dela já não sabia o que fazer para tirar do peito a dor que sentia por ver o desmoronamento da filha e do namorado, dado que tentaram inúmeras vezes desintoxicar-se, sem conseguirem grandes resultados e afundavam-se cada vez mais na dependência.

Então a mãe levou-a para casa da avó onde ela poderia sair do ambiente que a matava lentamente e, talvez deixar as drogas, dado que a avó vivia num local mais puro e onde ela podia repensar toda a sua existência.

No fim do livro, Christiane deixa as drogas pesadas, mas sem deixar o álcool e o haxixe termina esta história, que poderia ser a de qualquer um de nós.

Citações

“...À noite, voltei a tomar alguns comprimidos. Um indivíduo normal morreria. Para mim, isto permitia-me ao menos dormir algumas horas. Um sonho despertou-me: sou um cão que sempre foi bem tratado pelos homens até o dia em que o prenderam num canil e o torturaram até a morte.”

 “Sem reflectir muito, tinha-me dividido em duas pessoas muito diferentes. Escrevia cartas a mim própria. Quer dizer, a Christiane escrevia cartas à Vera. Vera é o meu segundo nome de baptismo. A Christiane era a miúda de treze anos que queria ir visitar a avó, ou seja, de certa maneira, a boazinha. A Vera era a viciada. E discutiam, nas cartas.”

“ Achei que desta vez era o fim. Mas não era uma overdose, era só vinagre. Perdi toda a resistência e meu corpo não me obedecia mais. Foi assim que os outros morreram. Muitas vezes, depois de uma picada eles perdiam a consciência. E um dia eles não acordavam mais. Não sei por que tive tanto medo de morrer. De morrer só. Os drogados morrem sós. Mais frequentemente em banheiros fedorentos. Tive então, uma verdadeira vontade de morrer. No fundo não esperava por outra coisa. Não sabia o que estava fazendo no mundo. Antes, eu também não sabia muito bem. Mas um viciado vive para quê? Para se destruir e destruir aos outros? Pensei, naquela tarde, que seria melhor que eu tivesse morrido, mesmo que fosse só pelo amor à minha mãe. De qualquer forma, não sabia mais se existia ou não.”

Comentário

Este é um livro que, de uma forma simples e descomplexada, trata um dos maiores problemas da actualidade e que, infelizmente, tende a alastrar-se a uma velocidade gigantesca.

Christiane F. não foi apenas mais uma toxicodependente, não foi apenas mais uma que caiu e se deixou manipular pelas teias da droga e da dependência, ela não foi mais uma a morrer por dentro e não foi mais uma a sofrer ao ver a sua morte prematura escolhida por si mesma e pelos seus erros.

Christiane F. não foi apenas mais uma, porque ela teve a coragem, a força que, num ímpeto, num sobressalto a fez escrever este livro! Ela é dotada de uma força, que talvez desconheça, porque ela própria nunca foi ensinada nem incentivada a conhecer-se…

Se digo, que este problema se tende a alastrar, não é porque não acredite na força da união, da compaixão e da educação! Digo-o, porque não acredito, que com a mentalidade que nos encerra a visão, que com esta “necessidade” da perfeição ou melhor, de termos de alcançar uma perfeição inexistente, consigamos ver a realidade! É nesta sociedade que concentra em si a vontade de ser bajulada por se encontrar no topo hierárquico, onde se esquecem e se perdem as grandes pessoas…Perdem-se aquelas, que com o seu grande coração poderiam vencer e serem elas sim, merecedoras da glória!

Por isso, no meu ponto de vista, este não é um livro fácil, nem de todo agradável, no sentido em que não nos forma um sorriso nos lábios e não nos enche o coração desses sentimentos que outros conseguem encher…Mas, se escutado (!) e lido com uma atenção que dê o devido valor aos pormenores que, minuciosamente nos comandam a vida, poder-se-á observar que a coragem, a força e a brutal guerra de sentimentos que este livro encerra em si, nos faz ver aquilo de que nós, apesar de sabermos que é a realidade, tentamos fugir com o intuito de nos escaparmos a ela!

Concluo então, que esta pequena grande mulher, não merece o pódio por ter errado, mas por ter tido a coragem de mostrar o seu erro, para que outros não o cometam!



Leitor:
 Mariana F.Guerreiro, N.º19, 10.ºB
 Maio-2008